16 abril 2010

"vamos beber café, ou tens entrega?"

Em arquitectura é habitual termos entregas (de painéis com a evolução do projecto e de maquetes de estudo) quase todas as semanas, pode parecer exagerado mas é fundamental para que se possa detectar erros (dizem quem quem está de fora do projecto os vê melhor) trabalhar sobre eles e avançar. Parece tudo óptimo, o problema é que são coisas que demoram a fazer. Um processo criativo não tem horas e quanto mais complexo for a ideia mais complexa é a maquete e o painel, e as chamadas caixas brancas modernas (as casa de hoje) ainda são mais complicadas, ou está direito e simétrico e branquinho ou então o resultado é uma verdadeira porcaria... No meio desta cola toda e trabalho fico sem saber o que fazer ou como organizar o meu tempo, trabalho a noite, durmo durante o dia, ou nem durmo a noite nem durante o dia, e o trabalho fica na mesma, ou chega a acontecer depois de dias intensivos a trabalhar ter que voltar ao inicio, destruir a maquete (se o professor não destruir por nós), destruir o painel, afastar-nos da ideia que nos consumiu durante dias a fio... Torna-se frustrante e cansativo, consome-nos ao ponto de ficar-mos pelos cabelos e por-mos o nosso namorado (de gestão) a fazer maquetes 2h antes da entrega! Mas é masoquismo, só pode, porque quando vemos o resultado final ficamos orgulhosos, felizes e com vontade de fazer mais. É bom, mas é pessoal mais que tudo a minha relação com a arquitectura é como uma paixão ao velho estilo "quanto mais me bates mais gosto de ti". Há 5 anos entrei em arquitectura com a média precisa e toda a certeza do mundo, nos primeiros anos levei-me a extremos que não sabia que tinha, desde não dormir noites seguidas, a ter uma exaustão, a chorar por não conseguir por não ter ideias, a ir para o hospital as 3h da manhã com um x-acto no pulso, e sobretudo a ter muito orgulho em mim e no meu trabalho. Bolas sou boa nisto e tenho gosto em faze-lo! Mas como num jogo, o nível aumenta ao longo do tempo e de que maneira! As cadeiras são 8 ou 9 anuais (metade delas não servem para nada mas chateiam) e só se passa com 12 e na  principal com 14, combinadas com maquetes e uma dúzia de painéis por entrega, o tempo aperta,  e aborrecemos aqueles que querem estar conosco e para os quais não temos tempo. Não temos tempo para nós, e pintar as unhas é tempo perdido... uma camadinha de cola é sempre mais prático. Agora que estou no fim deste percurso não sei se quero ser arquitecta para o resto da vida, se quero isto para mim, a relação com ela não mudou, o que mudou foi a força de a encarar e a ainda falta a tese. 

5 comentários:

Inspiração Inesperada disse...

Os processos criativos são assim mesmo - deixam-nos exaustas, mas o resultado final vale sempre a pena. Segue o teu sonho... e descansa muito este fim-de-semana, acho que estás a precisar :)

Olhos Dourados disse...

Força nisso.

S* disse...

Exige muito trabalho... por isso precisas organizar bem o teu tempo por forma a teres momentos de relaxe.

Myosotis disse...

A inspiração pode tardar mas chega sempre :) Boa sorte!

Camille disse...

e eu que queria ter ido para arquitectura :x